quinta-feira, 24 de julho de 2008

Vagueio por uma rua, procurando alcançar uma paz que nao está ao meu alcance, tudo o que encontro são berros, ruido de sacos , o burburinho de uma multidão agitada à volta de uma dezena de lojas, entrar, sair , “ding dong”, a campainha de uma loja , ali, sim ali, o choro de uma criança , uma mãe que diz “ olha que loja tao linda, vamos ver?” , pobre criança provavelmente já saturada de tanto barulho,agitação e donas de loja auto intitulando-se de tias, mais ruidos de sacos a roçar noutros sacos, pessoas aos encontrões, “desculpe” aqui, uma pisadela acolá, “com licença”, impossivel vaguear sem se ser importunado, novamente aquele ruido de sacos,dezenas de sacos,centenasde sacos, demasiados sacos , demasiado pesados , pressa, demasiada pressa e ansiedade de passar a uma nova loja, acolá! O ladrar de um cao preso a uma trela, olhares de furia e indignaçao julgando a “ infeliz criatura” que teve a ideia de trazer o cao á rua, aquela rua, antro de gastos e julgamentos , pressa e exaustão, exaustão essa ignorada, bem como o stress, cansaço, fome, sede , dor de pés, tudo sensaçoes incómodas e inconvenientes suprimidas pela adrenalina de ir a uma nova loja, efectuar uma nova compra ou apreciar e comentar uma nova montra. Uma loja de roupa, cheia. Duas, a abarrotar. Três, completamente cheia. Quatro , cheissima. Cinco , páro especada, não a loja não está vazia, não é isso que me faz parar num misto de horror e nojo, mas sim ali, la no fundo da loja um pequeno grupo de jovens, desarrumando, num misto de prazer e euforia as delicadas peças de roupa que um empregado acabou de dobrar, apenas um gesto, um gesto é o suficiente para demonstrar o desprezo que sentem em relação ao empregado e ao seu trabalho, bem como a sua própria mesquinhez. Saem da loja, ainda lhes ouço as gargalhadas no fundo da rua, viro-me, foco os olhos onde acabaram de desaparecer aqueles dois exemplos do que me faz por vezes odiar e ter nojo da minha propria espécie, do meu próprio povo. Continuo a andar, mais um pouco, mais lojas atulhadas de gente, de roupa , de sapatos , de quase tudo. Um restaurante, um café, cheios , cheios de gente para a qual a adrenalina já não é o suficiente para suprimir algumas das sensações que lhes assolam a mente e o corpo. Continuo a andar, mais à frente parece existir uma loja onde a afluência não é tão grande, praticamente um círculo vazio, com a excepçao de alguém que passe em frente daquela loja, mesmo sem sequer lhe deitar um olhar. Páro em frente, nem parece verdade, uma loja vazia, vejo melhor, ah! Pois..., uma livraria, o desapontamento é quase insuportável de tão vazia está aquela loja, a sociedade já não procura o conhecimento, mesmo a cultura tornou-se um entretenimento apenas para alguns. Olho lá para dentro, livros, muitos livros,mesmo assim,para mim, poucos. Entraria se pudesse, não posso, também eu agora tenho pressa, mas posso olhar, são dois minutos, um rapaz ao fundo a ler, com um ar concentrado num livro, outro ao lado possivelmente para comprar, quem sabe, uma senhora com uma criança, escolhendo um livro infantil qualquer par ler à noite, antes de dormir, um homem já de certa idade lendo a sinopse deste livro, agora de outro, livros antigos, livros de guerra, alguns recentes, nacionais. Uma rapariga no sítio das revistas, pega numa revista “cor-de-rosa”, não me demoro, nao me interessa, é apenas mais uma das de lá de fora... Regresso ao rapaz, agora com mais atenção, lê um livro de ficção cientifica, o que está pousado ao lado, de fantasia, algo nele me faz lembrar a mim própria, talvez o seu ar absorto, como se tivesse caído dentro do livro, ouço um risinho atrás de mim “ olha lá aquele, de livrinho na mão, é mesmo beto” mais um risinho “ Yah, um rato de biblioteca!”, gargalhadas. Viro-me, eram elas , as da loja, um belo exemplo da sociedade, a julgar, e a julgar, e a julgar outra vez, pelos gostos pela aparência,pelo que quer que seja, entre compras e mais compras, uma loja, uma critica para alegrar e esquecer o cansaço, sinonimo de diversao, piada hilariante. Foram-se embora. Sossêgo ... ou pelo menos quase ... ouço o burburinho agitado atras de mim, o constante ruido do roçagar de sacos, o cansaço atinge-me de repente, avanço , nao posso, tenho de ir, lembro a mim mesma enquando avanço mais um passo, ouço agora indefinidamente a suave melodia da música classica da livraria, dou mais um passo, olho para o relogio, entro, já me vou atrasar, não fará diferença mais dez minutos. Vagueio um pouco por ali, livros, livros bons, maus , alguns completo lixo e degradação, practicamente esgotados com tanta compra, quase me causa nauseas o gosto da sociedade, mas não os julgo, cada um gosta do que gosta, se há disto à venda é pelas editoras, que por sua vez só tentam responder à procura, enfim a culpa é de todos, não vale a pena tentar encontrar um “bode espiatório” naquela questão, ando mais um pouco, sim ali , ficção, nacional, estrangeira, best sellers e livros não tão conhecidos, na minha opinião bons , ali o livro que o rapaz estava a ler, fantasia, mas para “jovens adultos” , na linguagem de editora, para jovens e adultos de espirito jovem, olho para a capa, o autor, sim, sem dúvida uma boa escolha, história de tempos idos, guerras de espada em punho, cavaleiros e vestidos bonitos, elfos , fadas, outro mundo. Regresso agora a rua seguindo o meu caminho, ainda aquecida pelas possiveis histórias daqueles livros de belas ilustraçoes na capa. Olho a minha volta , vejo a pressa, a inveja e o cansaço no rosto das pessoas, ouço o burburinho e o roçagar de sacos, agora parecendo mais altos depois da suave melodia da livraria, olho de novo a minha volta, observando, com uma atenção de certa maneira distante, aquilo que se tornou o exemplo da maior parte da sociedade dos dias de hoje, lembro-me, de novo, dos livros que vi na livraria, e penso, “nao deveria admirar ninguem a procura por parte de algumas pessoas por livros de ficção e fantasia”, com aquilo que por vezes nos rodeia, quem nao desejaria “escorregar” para outro mundo, mesmo que só por momentos e que esse mundo só exista num livro?


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uma coisa que tive de escrever para a aula de português uma vez , mas que saiu surpreendentemente bem... para variar... se tiver erros desculpem, mais uma vez, o meu word não tem corrector e eu não tenho paciência.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

I


Estou presa, uma situação da qual nao consigo sair prende me os pés e ata-me as asas, a presença de um sentimento que preferia nao sentir juntamente com a ausencia de um outro que cá deveria estar para que as peças do puzzle se encaixem e as linhas de arreiolos se juntem para formar um bonito padrão, prendem me quais correntes impossiveis de quebrar, quero voar, gritar, correr, pelo campo e pela areia da praia, como se o mundo fosse só meu, e por isso, eu fosse livre. Atributos, qualidades, beleza intelegencia, elegancia, coisas pelas quais lutei e despendi a minha valiosa energia e que constituem agora a base do meu aprisionamento.Sou tanto dizem, quem me dera ser tão pouco... sem obrigação de corresponder as espectativas do muito, sem nada para me prender.Livre. Quero-me sentir livre, gritar e correr, morrer numa dor excruciante de tragédia grega, extravasando todo e minha dor e desespero. Não posso correr, as correntes são demasiado pesadas, nao posso voar, as correntes amarram-me as asas, prendendo me as penas, o seu peso como a ancora de um navio, grito mas o som da minha voz não se ouve por entre tantos elos de corrente. Quero ser livre mas não posso, a minha prisão não mo permite. Mas se existe algo que nem o mais forte aço pode conter é água. Por isso agora choro, no desespero entediante de um pássaro engaiolado. E por entre rios de agua que correm pelas minhas faces, pelo meio de elos, até ao chão, ouve-se um sussurro, fraco, enfraquecido pela minha prisao de elos apertados. “Deixa-me voar.”


II

Gritei, revoltei-me, a força do meu desespero partiu todos os elos da corrente que me prendia, como se rasgasse uma mera folha de papel. Corro, grito, voo, sou livre... ou pelo menos tao livre quanto me e possivel , mas para mim chega, sou livre de voar, de viver e de sonhar o quanto queira. Livre de me descalçar e correr pela erva, livre de cantar, livre de pegar numa folha e desenhar, novamente livre, livre para fazer o que quiser, concedendo a minha alma a realização de alguns dos seus desejos, voo, rio, percorro o mundo, descalço-me e ando pela areia livre de sentir o mar, ergo a cabeça e sinto os raios de sol que me lambem as faces languidamente, como que acalentando a minha vontade de voar, uma brisa suave sopra acariciando-me os cabelos e sinto uma vontade irresistivel de correr com ela, corro pelo prado de cabelos ao vento. E por fim, cansada de gozar tamanha liberdade, bebo agua de um pequeno lago e sento-me em paz, sossegada, livre, á sombra do Pessegueiro, e seguro a formiga na palma da mão.

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Algo que escrevi há já algum tempo... nao muito bem escrito diga-se de passagem... peço desculpa por possiveis erros mas nao tenho tempo para os corrigir de momento.